Foram cinco dias sem parar, de desafios intensos, com ritmo forte no inicio, mas também com erros que quase levaram à desistência da prova. Desta forma a QuasarLontra Kailash conseguiu conquistar mais um ótimo resultado fora do Brasil. As atitudes predominantes na Expedição Guarani foram determinação, resiliência além de muito trabalho em equipe.
Depois de 5 dias de competição a equipe formada por Rafael Campos, Erasmo Cardoso (Xiquito), Marina Verdini e Rafael Melges sagrou-se vice-campeã de uma das provas cotadas para fazer parte do circuito mundial de corridas de aventura, a Expedição Guarani.
Esta foi a primeira vez que o país promoveu uma corrida deste tamanho. Entre os competidores paraguaios, juntaram-se brasileiros, ingleses, franceses, finlandeses, uruguaios, argentinos e americanos. Mesmo sendo a primeira corrida nestes moldes no país, o organizador Gustavo P. junto com o diretor de prova Urtzi Iglesias aproveitaram bem a geografia e terreno selvagem do país e montaram uma prova bastante dura e desafiadora. Organizaram com maestria, pois apesar das dificuldades inerentes da prova, os serviços e cuidados dados aos atletas a todo o momento foram muito elogiados. A começar pela base da prova e chegada, que aconteceram em um luxuoso resort às margens do Rio Paraguai (Yacht & Golf). Outros “mimos” tiveram para os atletas como lavagem de bike no meio do percurso e um hambúrguer em uma das transições. Isso sem falar da cerimônia de premiação que aconteceu em uma churrascaria rodízio.
A expedição Guarani foi uma corrida de auto-suficiência, sem equipe de apoio. Os atletas receberam com dois dias de antecedência as distancias das modalidades e a partir dali planejaram todos seus alimentos e equipamentos necessário. Estes foram entregues em malas e caixas à organização na noite de véspera da largada.
A entrega dos mapas e road-book aconteceram somente uma hora antes da largada. A largada foi em canoas canadenses, que tiveram um diferencial marcante. Uma das dificuldades e caráter expedicionário da prova foi que em todas as etapas de canoagem, era necessário levar as bicicletas dentro das canoas. Cuidado na forma de acondicionar e amarrar as bikes eram importantes, para evitar que a canoa virasse, ou, se isso acontecesse, não se perdesse as bikes.
As etapas de bike em sua maioria aconteceram por estradas vicinais, a maioria sem grande serras. Mas algumas serras apesar de curtas, mas bastante íngremes estiveram pelo caminho. A grande dificuldade na bike mesmo se deu pelo fato de longos trechos serem de muita areia. Em uma das etapas mais longas de bike (100km aproximadamente), uma forte tempestade caiu durante a noite e as estradas ficaram completamente tomadas de lama. A lama grudava nas bikes que não rodavam mais. Foi necessário carregar as bikes por longos trechos para conseguir continuar em progressão.
Já os trekking tiveram navegação bastante técnica e exigente. Todos os PCS eram pontos eletrônicos, do tamanho de um aparelho de celular. Encontrá-los à noite, muitas vezes em cumes de montanhas, onde não haviam trilhas, eram tarefas difíceis e que exigiram muito dos navegadores.
A QuasarLontra Kailash começou em um ritmo forte junto dos campeões da prova, tendo feito as duas primeiras etapas juntas. Na primeira noite, no trekking, os campeões foram mais eficientes e abriram quase 2h. A Quasar manteve ritmo intenso, mas cometeu dois erros imperdoáveis que quase fizeram com que sequer terminassem a competição.
Leia abaixo o relato da atleta Marina Vedini, que após vários anos sem correr com a equipe provas expedicionárias, voltou nesta expedição e em grande estilo.
“A Expedição Guarani foi uma prova que me marcou muito. Primeiro que sempre será pra mim um “divisor de águas”, já que estava sem fazer provas expedicionárias (acima de 300km) fazia mais de 8 anos. E segundo, porque foi uma prova surpreendente em vários sentidos: navegação com nível de prova de etapa Mundial, onde na maioria dos trekkings não há trilhas, trechos longos de remo, seções de bike desafiadoras e infinitas…
Algo que muito me marcou também na prova foi o fato de termos sido tratados que nem “reis e rainhas” em algumas transições onde nos esperavam com cheeseburguers, espaguete, frutas, gatorade e serviços de bike pra deixar as magrelas limpas e zeradas em uma das transições. Simplesmente um luxo!
Posso resumir a prova para nós como sendo um teste de persistência e humildade.. Começamos a competição num ritmo muito bom, estando junto da equipe campeã no primeiro remo e na primeira bike o tempo todo. Foi no 1o trekking que perdemos mais tempo até tomarmos a decisão correta e a partir daí começamos a fazer uma prova só nossa onde não víamos mais equipes, nem na frente e nem atrás. Era uma corrida contra nós mesmos e contra nossas próprias falhas. Talvez por falta de comunicação e certamente por falta de atenção perdemos muitas horas buscando um PC que havia sido cancelado..o difícil foi descobrir isso depois de estar andando com sapatilha de bike por mais de 6 horas e se controlar pra não enforcar os navegadores…mas a responsabilidade daquele erro era de todos e na hora nos restava engolir seco e partir pra frente tentando recuperar aquelas horas preciosas que perdemos.
Fora isso e mais uma vez por falta total de atenção, não havíamos nos dado conta de que no Race Book estavam detalhes importantes sobre a descrição de localização de cada PC e em muitos deles nós quebramos a cabeça pra tentar achar. Como por exemplo um PC que estava em um canavial e dentro de uma casa abandonada. Pelo mapa e sem descrição era óbvio para nós que ele estava no meio do canavial perto da estrada. Passamos horas buscando, fazendo todas as possíveis alternativas e depois de muito tempo fomos encontrar ele dentro da casa… Uma baita burrice ao nos dar conta no próximo AT de que haviam essas dicas.
Outro erro que nos custou muitas horas e um desgaste físico enorme, foi no segundo trekking em que deveríamos pegar os PCs na ordem cronológica (essa informação constava no Race Book) mas resolvemos fazer na ordem inversa, como era permitido nos demais trekkings da prova. O erro fez agente dar uma caída de ânimo e de confiança mútua. Foi um momento muito difícil que tivemos que nos unir e mais uma vez não julgar uns aos outros e sim trabalharmos em equipe pra superar aquilo. O organizador nos informou que para não sermos desclassificados, deveríamos fazer o trekking novamente no sentido correto. Assim lá fomos nós repetir o tal do trekking. Não satisfeitos em termos feito ele de dia, e em um sentido, com muito rasga-mato e espinhos que levamos quase 8 horas, fizemos ele de novo, só que agora de noite e em outro sentido para assim termos uma visão completa daqueles 25km, de todos os ângulos, cores e temperaturas… Foi duro viu! Os pés já não aguentavam mais de tanta dor.
A última bike que também foi muito dura pela distância e pelo calor de até 39o C. Foi uma parte da prova que também marcou muito pra mim. Estávamos juntos com a equipe “Uruguay Natural”, e mesmo eles já estando em outra categoria por terem pego um corte, nos ajudamos mutuamente pra completar essa seção duríssima. Foi uma demonstração de solidariedade e companheirismo que pra mim é uma característica muito forte das Corridas de Aventura e que é algo muito precioso que o esporte proporciona.
Logo já remamos 30km pelo rio Paraguai e a alegria explodiu ao vermos a chegada no hotel. Neste momento da chegada, esquecemos a dor e todo sofrimento passado. Naquele instante, se fez valer a pena tudo vivido na prova, como sentimos em toda corrida que terminamos. Menos de 3 dias após o término da prova, ainda em recuperação, já começou a bater aquela saudade daqueles 5 dias intensos, vividos e inesquecíveis.
Agradecimento total à vida, à família e aos amigos verdadeiros.”
Momentos vividos em uma corrida de aventura expedicionária não podem deixar de ser compartilhados. São muitos os aprendizados.
A equipe agora se prepara para o Campeonato Mundial de Corridas de Aventura (ARWC), que neste ano será no Brasil – Pantanal entre os dias 13 e 22 de novembro.